sábado, 19 de novembro de 2011

Eleitores temem retrocesso no casamento igualitário na Espanha

Rajoy espera a sentença do Tribunal Constitucional que pode derrubar união homoafetiva.
Casal gay se beija após passagem do papa rumo à praça de Cibeles, em Madri, na Espanha (Foto: Divulação)Casal gay se beija após passagem do papa rumo à
praça de Cibeles na Espanha (Foto: Divulação)
Francisco e José María, depois de dez anos morando juntos, decidiram casar-se. Queriam que a cerimônia fosse em Pitres, cidade no sul da Espanha, a 80Km de Granada. O prefeito, do conservador Partido Popular (PP), havia sido empossado há poucos meses e disse que, em Pitres, o casamento não poderia ocorrer. O casal foi então para Jun, cidade granadina conhecida por sua tolerância. O prefeito que casou Francisco e José María se prepara para outros 170 "sí, quiero" entre casais do mesmo sexo. O trâmite "expresso" proporcionado pelo socialista José Antonio Rodríguez Sala tirará do sufoco LGBTs que temem o retrocesso em seus direitos após as eleições. O candidato do PP, Mariano Rajoy, espera a sentença do Tribunal Constitucional sobre dois recursos, contra a lei que permite o casamento igualitário e contra a lei de aborto. Para o PP, elas são inconstitucionais.

"Fomos vítimas da homofobia do Partido Popular. Com a vitória certa dos conservadores, é previsível que algo ruim venha pela frente" opina o comerciante Francisco Fernández Fierro, 53 anos, casado desde 15 de outubro com o professor José María Peinado, de 45 anos.

Casais correm para marcar casamento até pela internet
Em Jun, só tinham sido celebrados 12 casamentos entre pessoas do mesmo sexo, dos mais de 20 mil em toda a Espanha desde julho de 2005, quando a mudança no Código Civil entrou em vigor. Desde então, todos os direitos derivados do casamento foram igualados: de pensão por viuvez à adoção. Agora, por causa das eleições, a cidade granadina, de apenas três mil habitantes, espera quase duas centenas de uniões entre casais do mesmo sexo até o fim do ano. O socialista José Antonio Rodríguez Sala afirma, orgulhoso, que Jun será a primeira cidade do mundo a realizar casamentos pela internet.

"Lancei a oferta pelo Twitter e já temos 68 datas marcadas, e outros cem pedidos em trâmite" gaba-se o prefeito.

Agustín López, presidente da Cogam, associação madrilenha de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, diz que tem lutado contra a abstenção nas eleições. Ele prega o "voto rosa", ou seja, o voto em partidos que não discriminam a população LGBT. Pesquisa do Centro de Pesquisas Sociológicas (CIS) aponta que 77% dos jovens espanhóis são a favor do casamento igualitário.

"Nossos direitos estão na corda-bamba. Se o PP voltar atrás, entraremos num limbo legal" afirma López.

O mesmo risco corre a lei de saúde sexual e reprodutiva, reformada em 2009, que descriminalizou o aborto durante as 14 primeiras semanas de gravidez. Até a 22 semana também é permitido interromper a gravidez em casos que ameaçam a vida ou a saúde da mulher ou se houver risco de anomalia grave no feto.

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