terça-feira, 13 de setembro de 2011

10ª Parada Gay de Salvador Bahia

É Setembro, mês que a maioria do povo do Santo comemora às Águas de Oxalá. O ritual serve a purificação e marca o inicio ou o fim do ano litúrgico das Casas de Candomblé. O Orisa maior Oxalá que no sincretismo religioso é associado a Jesus Cristo é celebrado com muito carinho e respeito, e  a cor obrigatória é o branco. Rituais de silêncio, penitência, contrição e agradecimento, assim como, pedidos de perdão pelas falhas cometidas durante o ano são realizados com amor e dedicação.
Saio de casa por volta das 13 horas. O voo parte de Ribeirão Preto as 16:00. Sou feliz pois o Universo conspira ao meu favor e o meu caminho é branco como o mês de Oxalá, como a roupa que trajo, como os ipês brancos que florescem em abundancia...
Gays do meu País: Que felicidade poder estar presente em quase todas as nossas manifestações pelo Direito e por nossa Dignidade. Nossa vitória a cada dia torna-se mais visível e concreta. A música que faço alcança cada vez mais longínquos ouvidos. Pudera todos os iguais terem a oportunidade que estou tendo.
As impressões da viagem são tantas que temo esquecer algum detalhe ou alterar o sentido da razão do texto. João de Ogum, servo do Orixá das estradas carrega-me em seu carro e no meio do caminho a responsabilidade é o de cuidado com mais almas. Nenhum peso maior do que aquele que eu possa carregar.
Tomo o avião no horário e sigo para a Salvador. O povo do Santo, os gays da Bahia, os Orixás e a Força Suprema haverão de me encontrar.
Chego na Aeroporto Internacional Deputado Antonio Carlos Magalhães Filho às 19:30 da noite e depois de tantas vezes em visita àquela terra sou surpreendido pelo aroma do azeite de dendê no ar e por Dancô, o Orixá Oxalá que reside no bambuzal. De lá sigo para o Ilé Íyá Omi Áse Íyámasé (Terreiro do Gantois), casa da eterna Mãe Menininha, hoje dirigida por sua descendente Mãe Carmem e lugar onde sou conhecido desde a tempos e bem amado por todos. Por lá encontro dona Alzira, minha madrinha querida que está às lidas já no 60ª ano do Caruru de Ibeje (iguaria fina e delicada preparada e oferecida em honra as crianças). Tantos são os nomes e as pessoas amadas que achei melhor ater-me a citar somente Dinda abraçando-a todos e homenageando-os com minha gratidão e não correndo o risco de esquecer ou falhar em nomear um a um. A conversa é regada a amizade e saudade até as tantas da manhã. Na manhã de Sábado sigo ao Largo de Roma, caminho do Bomfim, ao encontro do amigo Samuel Costa e também do Nosso Senhor Habitante daquela colina sagrada. "Vamo lá..."," vamo lá...". Tomamos um táxi e rumamos para a Casa Branca, Terreiro Mãe e mais antigo da Bahia onde se prepara nesse dia o inicio da festa de Oxalá menino, Oxaguiam, o Jovem Guerreiro Branco.
Por lá somos recebidos com educação e gentileza, atributos próprios daquela gente pura que por lá habita e freqüenta. Egbame Cinha, uma das antigas e portadora de cargo nos recebe na sala, não sem antes subirmos pela escadaria de baixo do Alá da misericórdia (pano de algodão, puro e alvo que simboliza a proteção de Deus). Quando dou-me conta estou na lida na preparação das iguarias. Obrigado a todos por permitirem-me colocar minhas mãos no inhame sagrado e também por retirar a casca escura dos cocos que servirão ao mingau. Adupé!
No Domingo tomo a direção do Engenho Velho de Brotas onde reside Egbame Tuninha de Omulu, yamoorô do Gantois e também me primeiro contato por ocasião de minha primeira visita a essa Terra Encantada. Peço-lhe a benção, abraço-a e agradeço-a por ser tão cara e amada em minha vida. Tenha muita saúde minha linda! Eu te amo muito! De lá... Para... Campo Grande...
10ª PARADA GAY DE SALVADOR !!!!!
No encontro com os iguais o dia é de festa, alegria, militância, beijo, encontro, paz!
Como sempre em nossos Dias de Orgulho nossa festa acontece sem violência, com muita cor e nossos corações explodem em risos em praça publica. Oportunamente falarei aqui de minhas opiniões de alguns heterossexuais presentes no evento, principalmente do sexo feminino e que por atos indelicados contra os nossos pouco me agradou... 
As 19:00 com o Campo Grande lotado com mais de um milhão de pessoas volto para o Gantois onde será servido na casa de Dona Alzira o "Caruru de São Cosme e São Damião". Festa linda e deliciosa com tudo  que a Bahia tem de melhor. É quase madrugada quando vou dormir. Meu grande compromisso de Segunda-Feira excita-me a ponto de perder o sono...
6:00 da manhã, mal nasceu o sol e estou a caminho de Santo Amaro, onde em uma rua antiga de número 179 tenho um encontro com uma das mais admiráveis mulheres que alguém pode conhecer na vida: Dona Canô: Matriarca da família Velloso, viúva de Seu Zezinho, mãe de Bethânia, Mabel, Caetano, Rodrigo, Irene, Nicinha, Clara e todos nós que também somos filhos dessa Mãe de carinho, resistência, luta e amor. Encontro-a um pouco debilitada, mas perfeitamente lúcida e clara como um dia foi a água do rio Subaé que corta a cidade de Santo Amaro da Purificação. Canô é o Baobá que vigorosamente viceja na margem do rio. Poderíamos conversar  por horas, a Mãe é muito boa de conversa!Sou recebido em seus aposentos e a nossa vontade é conversar muito, falamos das antigas do Gantois, de Nossa Senhora da Purificação, da importância que as canções de Caetano e Bethânia tiveram em minha formação enquanto gente, do carinho e dedicação de Mabel e Rodrigo, da suavidade do menino Cezar e também da sua impossibilidade de se locomover; Por respeito despeço-me já marcando uma próxima visita. Dia 16 de Setembro de 2011 Dona Canô estará completando 104 anos. Estarei a três mil quilômetros de distância, mas já lhe deixei um presente e dobrei meus joelhos aos pés de Nossa Senhora do Amparo e roguei a ela que lhe proteja em todas as horas.
Com o coração amaciado do amor dessa mulher sigo para Cachoeira. Lá vou visitar mais mulheres. As irmãs da Irmandade da Boa Morte.
A hospitalidade dessas criaturas é inerrável. Sigo para uma casa de Candomblé antiga "Raízes de Ayrá", casa de Xangô, senhor da Justiça e da Verdade e que também se veste de branco e encontro mais mulheres fortes e destemidas. Provo do vinho e como do melhor feijão de minha vida na casa de Mariá!
Da janela avisto o rio que desce como a vida, que luta contra as pedras, como os gays de Salvador, como Dona Canô que resiste bravamente; Como o povo do Candomblé que persistiu no exercício da sua fé e daquilo que queriam para suas vidas, como mães que colocam filhos no mundo e não sabem qual será o seu destino. Como o Baobá que dura mais de mil anos em Paciência e Abrigo, como Dancô, o Oxalá do bambuzal que se curva ao vento Ciente e Humilde diante do Tempo. A vida é feita de diferenças! Mas somos iguais diante dela. Que tenhamos uma Boa Morte e que Gays ou não, vivamos uma Boa Vida.
Volto para casa mais negro, mais branco, mais gente...
Na madrugada a alameda de bambuzais do aeroporto de Salvador indica o caminho da volta pra casa.
Alfredo de Exu e Carlão de Xango estarão a minha espera no aeroporto de Ribeirão Preto.
Como é bom ter amigos!
 


 




 


 

 






 







 



 

 

 

 


 

 

 


                                  
 


 

 

 

 













 








 




 







 



 


Um comentário:

  1. Paulo em uma palavra...ARRASOUUUUUUUU...rs...adorei td...principalmente aquele bolo com glace cor de rosa...vamos fazer um dia de COSME E DAMIAO?...bjs,Paul,vc sabe o qto é especial pra mim...q continue tendo sucesso em td q se propuser a fazer...love uuuuuuuuuuuuuuuuuu

    ResponderExcluir